“Eu sinto saudades de você, muita saudade. E até queria voltar a falar com você, rir, zoar… Mas é que sei lá, você me magoou tanto, me deixou tantas cicatrizes que acabei ficando fria. Não porque eu quero, mas porque essas cicatrizes ainda machucam demais. Elas doem tanto que quando eu resolvo deixar meu orgulho de lado e ir falar com você, elas começam a criar vida, e falam por mim. Porque você teve que fazer tudo isso ? Você pode dizer que sente minha falta, mas sabe, eu não consigo mais ser a mesma. Se você não tivesse feito tudo o que fez, talvez tudo fosse diferente. Mas a vida é assim, as pessoas erram e tem que pagar por esses erros.” 

 

(DM)

Abri meus olhos com dificuldade. Após um longo tempo levantei e fui preparar meu café. Respirei fundo varias vezes. Estava cansada, me sentindo sozinha, com um vazio tão grande que não havia nada naquele momento, que me preenchesse novamente. Mas eu precisava ser forte. Eu não poderia desistir de tudo por sua causa. A vida continua, por mais que minha vontade de ficar na cama fosse a coisa mais reconfortante do mundo. Eu precisava seguir em frente.

- Isso vai passar - sussurrei para mim mesma.

 Segui então com minha rotina. Aquilo estava bem mais estressante que o normal. E o tédio me dominava a cada segundo. Fingi estar feliz para as pessoas, porque eu nunca fui do tipo que deixava minhas emoções tomarem conta de mim. Isso só iria mostrar minha fraqueza, eu eu queria desesperadamente parecer ser a pessoa mais forte do mundo. É como dizem, uma mentira, dita cem vezes, pode se tornar realidade. E isso era tudo o que eu queria.
 Hora de sair desse lugar, hora de ir embora. Ir embora, não. Decidi dar umas voltas por ai, quem sabe isso me acalma. Não consegui, precisava urgentemente ir para casa, tomar um banho quente e ler qualquer livro. Quem sabe assim eu consigo me distrair.
Enquanto esperava meu ônibus, coloquei meus fones e tentei me distrair com algumas musicas. E quando o ônibus finalmente chegou, percebi que era melhor eu ter ficado andando por ai. Ele estava lá, todo distraído. Ele não parecia tão bem, estava com uma aparência horrível, como se nem ele estivesse bem. Queria me animar com isso, mas, aquilo me afetou. Foi como se alguém tivesse me dado um soco na cara, tentando me acordar para a realidade.
Desviei o olhar dele e comecei a observar as pessoas na rua. Desisti pouco tempo depois. Elas estavam bem mais vazias que eu. Eu pelo menos sentia alguma emoção, as pessoas, por outro lado, pareciam só estar atrás de dinheiro e mais dinheiro, sem ter tempo nem para elas mesmas. Isso é tão deprimente.
Quando cheguei no meu ponto, dei mais uma olhada nele e o vi com uma expressão tão devastadora. Seus olhos estavam vermelho, como se tivesse chorado por horas sem parar. Ele abriu a boca, e a fechou logo em seguida. Eu queria ir até ele, abraça-lo e dizer que jamais o deixaria. Mas, meu orgulho falou mais alto, e eu desci do ônibus sem olhar para trás.
Cheguei em casa exausta, mais por tê-lo reencontrado. Eu queria ver ele novamente, mas não agora. Queria que ele me visse radiante, feliz, e não do jeito que eu estava. Eu queria que ele percebesse que eu podia muito bem viver sem ele, como se ele tivesse sido só mais um. Mas, ele foi bem mais que isso. Ele fez com que eu me sentisse viva, feliz. Eu o amei da forma mais intensa que alguém pode amar. E veja como acabou. Da forma mais trágica. Eu só queria saber se ele se sente da mesma forma. Olhei meu celular e não havia nada, nenhuma mensagem, nem se quer uma ligação. Cheguei a conclusão de que, não importa se nós dois estamos assim, nenhum de nós vai dar o braço a torcer. Somos orgulhosos demais para isso.

- E é exatamente isso que o orgulho faz. Ele tortura as pessoas, fazendo com que elas desistam de sua própria felicidade por um sentimento tão mesquinho como esse. O orgulho só faz mal, só machuca. E quem consegue não ser orgulhoso, ainda mais num caso desses?

(DM)